Após criar imensa empatia, após lhe fazer imensas perguntas e achar que o doente, para os 70 anos que tinha e para os seus outros tantos problemas, até era um doente porreiro, aconteceu o seguinte:
- Vou lhe fazer uma pergunta - disse ele - Sabe como é que se chama uma mulher diabética que está com o período?
Passou-me pela cabeça responder-lhe uma coisa seca, porque já estava a adivinhar que dali não vinha boa coisa, mas fiquei calada
- Pingo Doce! - Disse todo contente e até soltando um risinho
- Então diga-me Sr. M, quando é que colocou o segundo pacemaker?
Tenho passado por algumas situações caricatas nas enfermarias e todas elas por doentes do sexo masculino! Podia fazer um post todo ele a gozar e a ridicularizar a situação mas não estou no mood. Parece-me um pouco grave que sejam sempre homens, com alguma idade, a dirigirem-se a mim nestes modos. Antes desta ocorrencia, houve um que insinuou que o meu trabalho devia ser o mesmo que o da mulher dele: limpar-lhe as unhas dos pés. As unhas dele não estavam em condições e ele não se sentia nem um bocadinho responsável por isso. O pior foi ter procurado, com o olhar, o concentimento do meus dois colegas rapazes.
Apercebi-me de que vou, pela primeira vez, deixar uma cadeira atrasada. Para o ano. Para o ano em que não devia deixar cadeiras atrasadas. E sabem que mais? Vou continuar a estudar (ou a tentar) por mais uns dias até ao exame. Por respeito à minha mãe, que está sempre aqui para tudo e que acredita sempre. Porque ir embora seria desistir e se ficar vou desafiar as probabilidades, vou lá para assumir uma má organização em vez de fugir e dizer que a culpa nao foi minha, porque foi! Mas isto está a fazer algum sentido? Vou masé estudar.
Alguém já teve o bordo proximal da unha (não são os laterais) extremamente inchado? Com granuloma piogénico (digo eu) e uma dor muito intensa num dos lados desse inchaço? Já estou farta disto, só quero que acabe
Custa-me acreditar que seja uma unha encravada por não ser num bordo lateral...
O pior (ou melhor) disto tudo, é que não conheço ninguém que me saiba orientar. Já fui ao médico e fui acompanhada pela equipa de enfermagem mas não me podem fazer nada. Se conhecesse alguém que já tivesse sobrevivido a isto sempre lhe podia perguntar qual é que foi a solução final e ir directa ao assunto. Assim não, ando aqui à experiencia. Com um dedo que mais parece uma batata. Fuck.
Depois de ouvir a letra desta música atentamente, está decidido. Tenho de comprar um vestido vermelho! *emoji a chorar de tanto rir*
What is important in a dress,
is the woman who is wearing it...
Gosto cada vez mais dos MAGIC! :)
"She's tried on everything Every little thing inside her closet And she knows it's getting late Knows that I been texting and I'm starving Cause we been working overtime She wants to make her night one we will remember And I'm standing at the town Thinking it's alright, put on whatever
But I've been on my best behaviour Pacing back and forth And 10 thousand lifetimes later When she walks through the door"
Cuidou de mim sempre com uma voz meiga, alertou-me sempre sobre o procedimento e respondeu sempre a todas as minhas perguntas. Avisou-me que para a próxima me vai fazer uma maldade e que vai doer como o caraças, tudo isto num tom calmo e doce. Acreditem que faz diferença. Acreditem que vale a pena conversar com os doentes enquanto andam a apertar e a provocar dor. Passa a mensagem de que estão cientes de que estão a lidar com uma pessoa e não com um simulador. Não se riu das minhas queixas, não me respondeu mal, não me lançou um olhar matador, não fez de mim burra, não foi arrogante. Sei que há por aí muito boas enfermeiras mas a minha sorte sempre me pôs gente estúpida à frente. E sabem que mais? Até me tremem as mãos quando as vejo no hospital.
Um grande obrigada a todas as pessoas que exercem enfermagem. Um Obrigada especial aqueles enfermeiros que para além de enfermeiros, são também verdadeiros pain relievers, em todos os sentidos. Respeito muito o vosso trabalho apesar de todas a intempéries que já vivi com enfermeiros. Mas é assim em todas as profissões, há sempre uns podres.
(Estou metida num sarilho e só hoje me apercebi que toda a minha ironia desta última semana pode vir a tornar-se realidade. Fuck. my. life.)